segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

Fotografia - WRC Monte Carlo

Começar o ano a realizar um sonho

Pois é... já há muito que sonhava ir ver este rali com troços espalhados pelos Alpes franceses. 
Na verdade, o rali começa em Monte Carlo, no qual o famoso casino é o principal patrocinador do rali e daí dar o nome a tão emblemática e característica prova.
É a primeira prova do ano e as expectativas são sempre muitas. É a primeira prova da nova era dos WRC (world rally cars), isto porque os novos regulamentos da FIA permitem viaturas com novas aptidões aerodinâmicas e mecânicas, ou seja, os novos WRC fazem quase lembrar os antigos grupo B's das décadas de 80.




Para realizar este sonho, bastou o fotógrafo André Lavadinho me convidar para o ajudar com as fotografias para a sua agência fotográfica, a @world. Sem dúvida um privilégio estar junto de um grupo tão espetacular de fotógrafos. Neste caso, juntei o útil ao agradável reunindo dois mundos que eu tanto adoro: o da fotografia com o dos ralis, ou seja, a cereja no topo do bolo.

Com a viagem comprada, a mim ainda se juntaram mais dois grandes amigos. O Pedro Ferreira, meu piloto nas 2 últimas temporadas e na temporada de 2017 no Nacional de Todo-o-Terreno, e o Hugo Mesquita, um grande amigo das aventuras dos ralis em Portugal apesar de nunca ter andado como seu navegador.





Partimos todos na quinta-feira, 19 de janeiro, e nas bagagens apenas levávamos roupa bem quente para enfrentar o frio das cordilheiras alpinas da região do Mónaco e de Gap. Estávamos já avisados pelo Lavadinho (que tinha partido no dia 17 de janeiro) que as temperaturas em alta montanha atingiam muitos graus abaixo de zero. Na verdade, parti todo feliz, pois para além da fotografia e dos ralis, ainda se ia juntar outro dos meus mundos, a neve em alta montanha. Ouro sobre azul! :D 
Arrancamos do Aeroporto Francisco Sá Carneiro e ao meu lado ficou o Hugo Mesquita. Será que quer dizer alguma coisa? :) 




O Pedro tem que ir sempre nos lugares da primeira fila pois a sua elevada estatura não permite que as suas pernas caibam nos ditos lugares "normais". :D Assim, e da janela do avião consegui identificar a "minha" serra do Marão (vi mesmo as antenas) consegui também identificar mais tarde os Picos da Europa estes com os 3 grandes maciços cobertos de um manto branco mágico e aqui ao mesmo tempo foi-me escorrendo uma lágrima de saudade tão fria e gelada como aquelas montanhas que estava a ver. Depois, mais tarde, os Pirenéus também eles cobertos de imensa neve, e cheguei mesmo a ver a cidade de Andorra-a-Velha e as suas estâncias de ski. Estava admirado com a minha capacidade visual e interpretativa a dezenas de quilómetros do chão. 











Chegados ao Aeroporto de Marselha, era hora de nos fazermos à estrada de viatura de aluguer, calhou-nos um Renault Kadjar 4x4, carro que nunca chegou a ser comercializado em Portugal, mas que no entanto se veio a revelar uma agradável surpresa pela forma como se foi comportando ao longo dos dias da nossa estadia o que poderão comprovar mais à frente.

A caminho da cidade de Gap, onde se encontrava a casa que o André Lavadinho tinha alugado em La-Bâtie-Vieillena, estavam cerca de 2 horas de viagem, que foi feita sempre na companhia de paisagens de cortar a respiração! 



Chegados a casa deparamo-nos com um lar bastante acolhedor, todo forrado a madeira em plena montanha mas em pouca altitude para podermos circular com as viaturas por causa da neve e a poucos quilómetros do centro de Gap, cidade onde se situava o parque de assistência e o centro nevrálgico do rali. Após a nossa chegada a casa, onde tínhamos os passes pessoais para podermos circular sem problemas com a viatura nos acessos aos troços, decidimos os três ir ver a segunda PEC onde o primeiro carro só partiria às 23 horas. Já se "respirava" o verdadeiro espírito do "Monte", e a emoção de sentir na primeira pessoa as tradicionais e míticas PECs noturnas do Monte Carlo era imensa. 




Fomos para o final dessa PEC e recebemos infelizmente a triste notícia de que na primeira PEC tinha havido o acidente do Paddon da Hyundai e que tinha atingido um espectador. A família ligava a cada um de nós para saber se estávamos bem porque as noticias que passavam não eram nada animadoras e que esse espectador tinha mesmo falecido. Entretanto já tínhamos ido à lenha para nos aquecermos, pois o frio era imenso e só à fogueira se conseguia aguentar. Estavam cerca de -15ºC e era preciso aquecer o corpo e aproveitar para "churrasquear" umas chouriças que tínhamos trazido de Portugal. 







No meio de tanto frio e dado o avançar da hora, soube-nos pela vida. Fizemos alguns amigos franceses que acabaram por nos chamar para a fogueira deles e nos deram de beber algo que ainda hoje não sei o que era. Tinha um sabor doce, sei que tinha mel e alguma aguardente, mas na verdade aquele "elixir" aqueceu-nos a alma no meio de temperaturas tão gélidas.
O espirito é indescritível, imensas fogueiras delineavam a estrada por onde iriam passar os primeiros WRC de 2017 e entretanto, os carros apareceram, e lá fomos "matando" a nossa adrenalina e ansiedade de ver os novos WRCs ao vivo e a cores. Os foguetes luminosos de cor vermelha foram aparecendo no meio daquela noite escura, á qual o meu amigo Mesquita lhes apelidou de "Caldeirão" e depois lá nos encandeou o primeiro foco de luzes do primeiro carro. Era o Ogier no novo Ford, e parecia que à sua passagem ficava dia dada a quantidade e poder de iluminação que a sua rampa de faróis tinha. Bem, estávamos na verdade num rali do mundial em que tudo é "à grande e à francesa" mas comparado com a nossa realidade portuguesa não tinha nada a ver. 
Vimos alguns carros, deliciamo-nos com a condução de alguns mas estava na hora de regressar a casa. O André Lavadinho já estava em casa à nossa espera, e tínhamos que planear o dia seguinte. Após algum estudo nos mapas e no media book decidimos que íamos acordar às 6 horas para entrar pelo inicio do troço 4 (Aspres les Corps - Chaillol). O troço estava com bastante neve em algumas partes, no entanto, o Renault Kadjar portou-se maravilhosamente bem. Atrás de nós vinham mais 2 fotógrafos @world (Jordi e Oliveira) num Opel Mokka apenas com tração à frente e numa subida do percurso com imensa neve já não conseguiram subir mais. Tivemos que ficar naquele sítio (perto do local que tinham planeado) e uma vez mais captar grandes fotos para a agência. 
Nós conseguimos passar e ficamos num local que o André já tinha estado em outros anos. 



O Pedro Ferreira, o homem da GoPro, fez também grandes fotos uma vez que com a aplicação do telemóvel consegue manusear a GoPro à distância. Colocou mesmo a máquina à beirinha do troço e captou grandes momentos com a mesma.








Terminado este troço e após ter passado o carro de fecho estava na altura de mudar de local. Quando vínhamos a passar de manha tínhamos visto um local cheio de gelo, um lugar sombrio e que nas pedras tinha formado muitas estalactites. Um cenário perfeito para uma foto que espelha-se o frio de Monte Carlo. Decidimos assim fazer cerca de 2 km a pé para encontrar esse local mas antes disso ainda estivemos com um amigo nosso do Líbano, Fouad Feghaly, mais conhecido pelo "Fofo".



Reparamos quando lá chegamos que as pedras formavam um género de caverna e que a foto ideal seria de lá de dentro. O problema estava em como entrar para dentro dela.





Estava tudo gelado, mas arrisquei. À minha passagem não podia tocar em nenhuma estalactite pois podia-se quebrar e podia mesmo ficar magoado se me atingisse dado terem aquelas pontas bicudas e afiadas. Depois de estar lá dentro, estava em segurança. Faltava afinar a máquina para captar os WRC's a cerca de 200 km/h que passariam naquele local. Eu não tinha grande margem de manobra dentro da caverna: era apertada e estava gelada. Foi neste local que o meu relógio detectou a temperatura mais negativa até ao momento: -22ºC. Fazia sentido, as estalactites tinham se formado porque o sol não batia naquele lugar um único minuto do dia. O local era mesmo sombrio o que dificultava ainda mais a captura do momento. Foi aí que passou o carro 0 e eu mal o consegui apanhar, mas pela foto que tinha tirado dava mais uns ajustes para conseguir uma foto boa. A seguir já era a valer... Foi aqui que o coração me começou a bater com mais intensidade. Não podia falhar aquela foto senão o Lavadinho "matava-me". Tinha ali uma oportunidade de ouro para fazer uma das fotos de Monte Carlo, no entanto, já não sentia as pernas nem o rabo uma vez que estava sentado sob o gelo. Entrei em modo automático e desliguei-me dos membros, a partir dali já só interessava a fotografia e pelas montanhas fora já se conseguia ouvir o "grito" do primeiro WRC da nova geração. Conforme o barulho aumentava, sabia que ele se aproximava e a adrenalina subia. Era o Ogier, era um dos clientes do Lavadinho e era importante não falhar. Ele aí vinha e consegui tirar a foto perfeita. A Canon 70D portou-se à altura e eu também.





Tinha conseguido a foto, apesar de mal ver o carro a passar. Para terem noção apenas conseguia captar 2 fotos em que aparecesse o carro dada a velocidade que eles por ali passavam. Uma foto bem difícil de realizar mas que me deixou com um sorriso no rosto e o sentimento de dever cumprido.
De regresso a Gap, fomos ao parque de assistência para o André colocar as fotos do dia juntamente com os outros fotógrafos da agência. Eu, o Pedro e o Mesquita fomos dar uma volta pelo parque de assistência e cumprimentar os portugueses espalhados pelas equipas do WRC. Tivemos mais tempo na Hyundai, o Neuville estava na frente e estavam bastantes animados e entusiasmados com o resultado. Foi bom ver o Jorge Leite, Wilson, André, Serginho, Rui Soares, Nuno e a Nicky todos empenhados para sair de Monte Carlo com uma vitória. Notava no discurso deles que estavam mesmo surpreendidos com  tal resultado: não estavam à espera mas admitiam que tinham feito grande trabalho na pré temporada, ao qual eu respondia: o único sitio onde o sucesso vem antes do trabalho é no dicionário meus amigos. Realizaram o trabalho acertado por isso agora vão ter o vosso sucesso e o Neuville tem nas mãos um grande carro, no entanto, nota-se que ele também é um excelente piloto. Fomos ainda visitar o Miguel e o Valter na Ford. Agora já não temos a VW onde estavam mais portugueses. Demos uma volta por todo o parque de assistência, compramos uns merchandising's e fomos jantar bem cedo, isto porque mais uma vez tínhamos que acordar cedo no dia seguinte. Após planeamento verificamos que a hora de acordar era às 4h30m da manha porque íamos entrar uma vez mais pelo início do troço "Lardier et Valenca - Oze" onde o primeiro carro partia às 8h08m. Pelo que o Lavadinho dizia era para mais um "col" (topo de montanha) que íamos.




Bem cedo iniciámos o troço, ainda noite, já conseguíamos ver as fogueiras espalhadas pela serra. Conforme subíamos havia cada vez mais gelo na estrada mas o Renault Kadjar portava-se às mil maravilhas. Sempre num ritmo constante íamos subindo devagar e curiosamente passamos por uma caravana que no gelo escorregou e estava de rodas para o ar. 




Chegados ao local onde íamos ficar, ainda de noite, fomos brindados com um nascer do sol fantástico que embora "envergonhado" viria aquecer um bocado o ambiente frio que se fazia sentir. O termómetro marcava -12ºC. Quando chegamos não tínhamos a perceção que à nossa volta haviam montanhas ainda maiores e só depois é que nos apercebemos que estávamos nos 1160 metros de altimetria.





O "spot" era espetacular com montanhas a rodear-nos carregadas de neve e mesmo no local onde estávamos havia imensa e muitos sítios com a estrada completamente gelada.


Acabamos por almoçar nesse local graças a algumas compras que tínhamos feito no dia anterior num Intermarché da região e esperar pela segunda passagem dos carros para fazer nesse troço fotos mais panorâmicas para o álbum fotográfico da @world. O petisco foi mesmo servido no capot do nosso Kadjar.



Na segunda passagem vimos os helicópteros a trazerem os VIP's para a tenda da Toyota que estava ali bem perto de nós e de um ponto bem alto fiz mais algumas fotos panorâmicas. O local era lindíssimo e dava para ver em diferentes sítios os WRC's a passar.





Dia marcado pelo toque do Neuville e que assim entregava de mão beijada um triunfo que parecia não lhe escapar em Monte Carlo. No entanto um toque num pequeno passeio quebrou-lhe a suspensão e hipotecou-lhe a ele e à Hyundai um excelente resultado nesta edição do rali. Fica assim Ogier e a Ford na frente do rali, com Tanak em segundo lugar e em terceiro um surpreendente Latvala no novíssimo Toyota Yaris WRC, este que viria a surpreender tudo e todos inclusive os próprios dirigentes da Toyota Gazzo Racing. 

Terminado esse troço arrancamos em direção ao Mónaco. Tínhamos pela frente cerca de 4 horas de viagem onde à nossa espera estava um bom jantar da equipa de fotógrafos da @world. Nesta noite o Lavadinho festejava "falsamente" mais um aniversário. Na verdade só queríamos que ele comesse um bolo para combater a "dieta" dele.




Depois fomos até ao centro do Mónaco, ao famoso Casino de Monte Carlo e acabamos a noite a fazer a mítica pista do Grande Prémio de F1 do Mónaco. Nessa noite tínhamos também planeado que íamos sair bem cedo. Acordamos as 5h30 para seguirmos para o último dia de PEC's. 












Este último dia era o dia das decisões em termos de classificações finais. Quase todas estavam decididas a não ser que houvesse algum problema para algum dos concorrentes. Problema esse que viria a verificar-se ao Tanak. Problemas no motor fizeram com que penalizasse a tentar resolver o problema e caiu assim um lugar. Desceu de segundo para terceiro, garantindo assim um grande resultado para a Ford em termos de pontos no mundial de construtores. 
Neste dia fomos para o mítico e famoso Col de Turini, digamos que é o local preferido dos franceses para verem rali. Entramos pelo inicio do troço que era fantástico na subida até ao Turini, com ganchos e mais ganchos e paisagens de cortar a respiração. Chegados ao famoso Col a moldura humana era incrível.



Podiam-se observar bandeiras portuguesas espalhadas pelo público. O ambiente que o Col de Turini vive nestes dias digamos que é do género com o espirito do "Confurco - Fafe" no Rali de Portugal mas em ponto muito mais pequenino. Foi aí que fiquei com a perceção de que, meus amigos como o nosso rali (os franceses e toda essa gente que esqueça) não há.
Não existe nada que seja equiparável ao "nosso" ambiente vivido em Portugal. Somos mesmo um público único e que tem mesmo uma paixão vibrante e enorme pelo desporto automóvel. 
Neste local fotografamos apenas alguns carros e saímos do Col de Turini por um acesso que deu para constatar que haviam cerca de 5 a 6 kms de fila de carros estacionados pelas montanhas abaixo. Havia gente ainda a subir para ir ver os carros passar na powerstage e a nós estávamos na indecisão se iríamos para o final da powerstage ou se iríamos embora colocar as fotos online para os clientes da @world. Decidimos ir para o final da powerstage e foi talvez uma das decisões mais acertadas devido à proximidade que tivemos com pilotos e carros, mas também uma decisão muito arriscada pois estava a começar a nevar e o único acesso a esse sitio seria uma estrada pela montanha fora de ganchos e mais ganchos por onde os carros zeros e diretor de prova desciam. Arriscado mas com um trabalho à maneira do Pedro, Mesquita (ao volante) e meu (agarrado aos mapas) lá conseguimos desviar-nos de todos e ter apenas tempo para vestir casaco, gorro e luvas e ir ver os WRC a chegar "just in time".
Foi fantástico estar ali no meio daquele ambiente e ver na televisão da WRCtv os concorrentes a chegar e ao mesmo tempo ouvir "in loco" os famosos comentários do Colin Clark.
Lavadinho disse que ali não precisava de ajudar na fotografia pois já haviam bastantes, disse para me ir divertir a ver os carros e pilotos a chegar. Foi mesmo isso que fiz e explorei ao máximo. Estive à conversa com Sordo e Breen e por final com o Latvala onde pessoalmente lhe dei os parabéns pela grandiosa prova de Monte Carlo que efetuou com um carro que ainda há pouco tinha "nascido". 











De parabéns estava também o grande Ogier que mais uma vez provou que soube estar no sítio certo mas também provou que tem umas mãozinhas que guiam qualquer carro. Sem dúvida que o tetra campeão do mundo será um piloto a ter em conta até final do ano e vamos lá ver se conseguirá renovar o título este ano. No entanto, creio que terá grande concorrência durante o ano. 






Terminado o rali, era hora de regressar para casa. Ainda almoçamos em Mentom e depois regressamos para Marselha para apanhar de novo o voo da Ryanair que nos trazia para o Porto.



Com ar de cansados estávamos todos, mas ao mesmo tempo felizes. Felizes por vermos um grande trabalho feito pelo Lavadinho no álbum fotográfico da @world neste rali de Monte Carlo como podem verificar em:

Albúm Fotográfico Monte Carlo - @world

Parabéns ao André Lavadinho e aos seus fotógrafos (Makai, Aurelien, Jordi, Nikos, Oliveira), é mesmo caso para dizer a famosa hashtag: #atworldneverstops. Foi um privilégio muito grande para mim puder fazer parte deste grupo de trabalho que não está ao alcance de qualquer um. Dei o meu melhor como sempre o faço e espero puder repetir mais vezes, porque: neve, rali e fotografia não é todos os dias que se consegue conciliar. Obrigado Lavadinho, Pedro e Mesquita (meus companheiros de aventura) pelos excelentes momentos que partilhamos juntos nestes 4 dias de Monte Carlo e por ter tido oportunidade de sentir o verdadeiro espírito do Monte Carlo e...


...que em 2018 cá estejamos de novo.

Sem comentários:

Enviar um comentário