Após 7 anos parado no "estaleiro" voltamos a competir no "velhinho" Evo6 que tanta alegrias me deu. Neste rali pouco quis colaborar conosco dando-nos apenas um "possível" P5 na geral e 3º entre os concorrentes do Campeonato Sul.
Este rali foi especial para mim pois fiz 200 ralis a navegar.
Deixo-vos mais uma cronica do nosso "tio" Cirne deste rali de Beja
Sexta feira dia de abalada para Beja
A maior estrutura móvel da Wintech saía primeiro devido ao seu grande porte
e velocidade mais lenta e apesar de bem conduzida por um piloto muito rápido, a
lei do tacógrafo não permite que se ultrapasse os 90 Km/hora.
Um Peugeot bastante mais ágil,
pilotado pelo Engenheiro, partia em demanda do Valter; mais atrás seguia uma carrinha com jantes pintadas num maravilhoso tom de roxo,
respeitando por vezes as leis impostas pela legislação em relação á velocidade
do conjunto.
Ponto de encontro, o parque de assistência que, apesar da sua grandeza, não
era grande coisa. Uma coisa era certa: o pó seria muito na passagem dos carros
e os mecânicos iriam ter dores no corpo causadas pelas pedras bicudas na altura
de se deitarem para fazer as reparações e a manutenção dos carros participantes
no Encivil Rali de Beja, orquestrado pelo Presidente Veirinhos que para o
próximo ano vai exigir a presença de um atrelado aos carros de competição para a colocação da
publicidade obrigatória fornecida pela organização, e só no fim, na entrega dos
prémios, percebi o porquê!!! Pois um belo Lamborghini do dono da Encivil
apanhava o mesmo pó que cobria tudo e todos.
Chegados ao parque, já com a lua no horizonte, fechámos tudo e fomos jantar
a um restaurante onde a comida era excelente, mas apenas um senão, o ruído era
mais forte que num dia de formula 1 em qualquer autódromo; o prestável pessoal
tinha a tez queimada pelo anos de exposição ao sol alentejano.
Fomos para o hotel: ótimas instalações, corredores e quartos com elevadas
temperaturas obrigavam ao uso do ar condicionado no interior dos quartos.
Merecido descanso pois a alvorada era cedo. Bem dormidos e com um bom
pequeno almoço, partíamos para o parque afim de dar inicio ao trabalho de preparação
para o acolhimento dos três carros destinados ao sofrimento infligido pelos
seus pilotos nos difíceis troços.
A equipa Vítor e Márcio saiam de manhãzinha para poderem treinar. Os
Muletos fornecidos pela Europcar não dispunham de rodas suficiente para tanta
pedra solta e ambos os carros perderam contra o difícil piso furando; o Carlos
continuou com um aviso vermelho no tablier que o informava do mau estado do
pneu, por seu lado o Vítor, mais cauteloso, preferia a presença do serviço de
assistência em viagem para o levar para uma área de pneus; a SEIÇA que fornece
pneus até à beiça, mas que de momento não tinha pneus da medida requerida pois
já os tinha esgotado no carro do nosso Carlos que já se encontrava no interior
e dizia “não descarreguem a viatura”, ordem que não foi obedecida porque o barulho do ar condicionado no
interior do Opel não permitia ouvir o que se passava no exterior. “Vão à ROADY
que é aqui perto”. Carrega novamente e arranca orientados pela voz doce da
menina do GPS.
Ali estava a solução com preços para várias qualidades de borracha, “levo
dois destes”, diz o Vítor; montagem rápida e o carro estava preparado para mais
uma ronda, o que não aconteceu pois o piloto com a sua experiência decidiu
mudar de rumo não indo aos troços para tirar as notas que lhe faltavam, porque
já tinham saído da sua carteira.
Tarde quente de sábado: vamos almoçar, o nosso habitual cathering estava
fechado para férias, por isso rumámos á Tellepizza ou similar pois são todas
iguais.
O pessoal que servia não tinha nenhum charme e o cozinheiro primava por ser
alentejano com feições de asiático. As pizzas demoravam e a confusão reinava
entre o pessoal que envergava a camisola de cor vermelha.
O rali começava às 16 horas e estávamos todos ansiosos.
Três equipas: o10 Carlos Fernandes/ Valter Cardoso, o 25 Nuno
Garcia/Alexandre Lopes e o 26 Vítor Calisto/Márcio Calisto.
Seis pilotos , três carros, dois técnicos - o Miguel e o Engenheiro Pedro
-, o Tamagoshi e o Avô da Wintech. Não ia ser tarefa fácil nos bastidores onde
se esperava que a experiência viesse ao de cima , mas tal não se verificou e a
indisciplina ditou decisões mal tomadas, perante o sempre calmo e ponderado
Miguel. Por sua vez o Engenheiro e o Tamagoshi juntaram-se numa parceria cujo
espírito de colaboração não se coadunava com uma equipa que já atingiu um alto
estatuto, pondo os poucos cabelos do Avô em pé.
Os carros vinham à assistência e o trabalho era feito no tempo estipulado
pela organização,
Na assistência antes da super especial havia a necessidade de montar os
faróis suplementares para a boa visibilidade dos pilotos: durante a montagem,
ouviu-se, “atenção que esta calandra não é do Toyota” e nesse momento as coisas
começaram a complicar-se, o engenheiro revolvia o camião mas os faróis
suplementares não queriam ir apanhar o calor da noite alentejana. E eis que o
regressado Carlos vindo do parque fechado e com o seu apurado faro conseguiu
distinguir o cheiro dos sapatos do Vítor do cheiro mais agradável da calandra;
“já não há tempo para montar aqui” e o pobrezinho partiu para a ligação onde, à
revelia a dupla maravilha, iria proceder à montagem.
O Mitsubishi numero 10 sofria uma alteração no tejadilho que iria impedir a
entrada de pó, qual Rali 1 onde por vezes é preciso usar óculos de mergulhador
para conseguir respirar numa máquina de tão elevado preço porque, segundo o
bate chapas, a pressão vinda do exterior não permitiria a entrada do pó:
cabecinha pensadora, neste caso não é aplicado o termo alentejano “engenero”.
A meia noite era passada no MacDonald e o relógio do Valter previamente
programado, alertou para a data dos 75
anos do Avô. Vieram os abraços de toda a equipa e os parabéns pelos quais estou muito grato, bem como pela vossa
amizade e paciência. Isto está a tornar-se um hábito, os 74 em Castelo Branco,
estes em Beja, porque será que fazem ralis no dia dos meus anos? Onde se
realizará nos meus 76?
Este rali tinha duas figuras presentes desde a minha infância, de frente
para nós o TINTIM e do nosso lado o Capitão HADDOCK que apresentava na manhã de
Domingo um semblante cerrado devido à dor que sentia nas notas, digo costas,
que o acompanha desde longa data e que o iria obrigar a apresentar a
desistência; só o piloto é a vedeta, mas aquele que se senta ao lado também tem
um papel muito importante. A nossa alegria esmoreceu e de três japoneses só
dois ficavam. É a vida!
O Carlos continuava a lutar para subir na tabela, porque o Veirinhos só
tinha prémios até ao quinto da geral e o nosso Piloto não queria vir de mãos a
abanar; o Mitsu não ajudava e a única pressão era a falta dela, o motor mais
parecia ser aspirado.
O Nuno com um Mitsubishi alugado ao Carlos dizia que anda nos ralis em
trabalho, não usava o ALS nos troços porque transformava o carro de coelho para
lebre.
No entanto e segundo o nosso espião, o ALS era usado com o carro parado
acelerando ao corte e nas ligações para agradar ao público.
Enquanto o Toyota descansava na sua boxe protegido do sol, os seus
compatriotas continuavam na luta e o pó cor de caramelo fazia mais uma vitima :
o Trabalhador que arranjava um rico
trabalho capotando o Mitsu para lembrar ao Carlos que aquela cor Azul não é a
mais indicada para aquele modelo, apelando para que seja mudada.
Enfim, no calor do Alentejo só um dos nossos carros terminou. Mais uma vez
a parelha do Nº 10 subia ao pódio, desta vez a pé para ir buscar o ultimo prémio, o prometido
quinto lugar da geral. Porque o cansado Mitsubishi não andou nem mais um metro,
sem o funcionamento da sua embraiagem.
Hora de almoçar no Pizza Hut com bolo, velas e um coro afinado que cantava
os parabéns a mim.
Chegou a hora de desmontar a barraca e como nos livros de Hergé, não existe
Tintim sem a sua fiel Milu, ela aparecia ao fim do dia coberta com uma capa
vermelha fazendo a alegria dos conhecedores.
A viagem de regresso começou com um atraso porque a Marlene não se queria
erguer, depois de um curto descanso pois a viagem para Beja tinha sido
fatigante. Passado algum tempo e com várias manobras, começámos a ouvir uns
estalos da cansada estrutura e um sábio “está a subir”; a Marlene arrancou,
enquanto a carrinha ia recolher o Mitsu à força de braço do Engenheiro, que
manobrava o guincho enquanto outros empurravam, para que o teimoso subisse para
o atrelado.
Vamos jantar a Aguas Santas, comer um choco frito. Quando chegámos já o
monstro estava em repouso e o pessoal sentado à mesa em alegre cavaqueira com
sorrisos até às orelhas e na sua frente uns copos de água de Vialonga. Saímos
para continuar a viagem e aí começou o drama, a Marlene já não tinha forças
para se levantar, qual elefante em fim de vida. No desespero dizia-se:” fica
aqui e o Dr. Alipio vem ver o que se passa”; “atenção que este sítio é um
bocado duvidoso”, disse eu!!! E a irrequieta dupla Engenheiro e Tamagoshi
tomaram conta da situação consultando o amigo Google para resolverem o problema
dos travões, e o finca-pé terminou ficando o chico livre para continuar. Parou
o cortejo na A-2 ainda com a teimosia da Marlene, que encostou os pneus à
carroçaria e teimava em não continuar, o transito era pouco e o Engenheiro
corria de um lado para o outro; a cena era digna de um programa dos apanhados.
Problema resolvido, a viagem continuou e os males que vinham do conjunto da
frente passaram para o de trás. À entrada da portagem: digo eu “partiu qualquer
coisa no pedal de embraiagem”; o Miguel desesperado não queria acreditar e com
a ajuda do seu olho mágico foi ver o que se passava; “bolas partiu o veio da
bomba de embraiagem”!!! Vou buscar fita americana, o que não resultou pois
agora é uma Trumpa, vou arranjar uma chave sextavada interior, o problema foi
encontrar a medida ( comprimento ) adequado e lá veio uma que levou o pedal até
junto do tablier mas resolveu o problema e o conjunto continuou até ao nosso
estaleiro onde o restante pessoal aguardava pacientemente. Ainda faltava mais
uma surpresa, pois o pequeno Mitsubishi do Carlos não tinha bateria e o piloto
queria ir para casa para partir para umas merecidas férias.
Um bem Haja a todos os elementos da Wintech
pela vossa amizade.
A.Cirne